O FC Barcelona pagou 1,4 milhão em três anos ao vice-presidente dos árbitros
A Procuradoria investiga a origem dos pagamentos que o clube fez a uma empresa de José María Enríquez Negreira até 2018, quando deixou o cargo na Comissão Técnica de Árbitros.
A Procuradoria está investigando o pagamento de 1,4 milhão de euros que o FC Barcelona fez a José María Enríquez Negreira entre 2016 e 2018, enquanto ele era vice-presidente do Comitê Técnico de Árbitros (CTA), órgão dirigente do colégio espanhol de futebol do Real Madrid Federação (RFEF) . Conforme revelado pela Cadena SER e fontes judiciais confirmaram ao EL PAÍS, a investigação começou no ano passado como resultado de uma inspeção do Tesouro na empresa Dasnil, de propriedade do ex-árbitro, e visa descobrir o que motivou esse desembolso. Os pagamentos analisados ocorreram durante o mandato de Josep Maria Bartomeu como presidente do Barça, embora segundo as fontes consultadas remontem às últimas duas décadas. O Barça admitiu, em comunicado, que encomendou “relatórios técnicos relacionados com a arbitragem profissional”. Enríquez Negreira também reconheceu que aconselhou o clube sobre os árbitros que iria encontrar em cada jogo.
Os pagamentos foram feitos por “diversas diretorias” do clube do Barça desde a fase de Joan Gaspart (2000-2003), passando pelas de Joan Laporta, Sandro Rosell e Josep Maria Bartomeu, segundo fontes familiarizadas com a investigação. Questionado por este jornal, Gaspart afirmou não ter “nenhum registo” dos pagamentos. A promotora do caso, que já ouviu depoimentos de alguns dos envolvidos, deve decidir se vê indícios de um crime de corrupção entre particulares —tanto o Barça quanto o Comitê são entidades privadas— e apresentar uma denúncia na Justiça ou, em pelo contrário, Arquive a investigação. As mesmas fontes indicam que, caso não se comprove a realidade do trabalho realizado por Enríquez Negreira, os pagamentos mais antigos deixariam de constituir crime porque teriam prescrito.
A Dasnil SL é uma empresa que Enríquez Negreira criou em 1995, apenas um ano depois de ter sido nomeado número dois do corpo diretivo da arbitragem e apenas três anos depois de ter abandonado a carreira de árbitro profissional. Além dos pagamentos que poderiam ser feitos em datas anteriores, a fiscalização da Receita Federal comprovou que a empresa recebeu 1,4 milhão durante o mandato de Josep Maria Bartomeu. Os pagamentos cessaram em junho de 2018, data que coincide com a constituição de uma nova Comissão Técnica de Árbitros e com a saída do seu até então vice-presidente. Conforme explicaram a este jornal fontes próximas da entidade, a decisão foi tomada pouco depois de o Tesouro ter alertado o Barça sobre certas irregularidades nas faturas.
“Que tudo seja neutro”
Antes da inspeção do Tesouro, o ex-árbitro e empresário explicou que o FC Barcelona lhe pagou por “aconselhamento técnico”, pois “queria garantir que não fossem tomadas decisões contra ele”, ou seja, e segundo explicou, “que tudo era neutro”. O relatório da Agência Tributária certifica que ele não forneceu “qualquer documento que comprove que prestou serviço à FCB”. O motivo é que a assessoria, segundo disse ao Cadena SER, foi “verbal”. Mas tanto seu filho, que era administrador de Dasnil, quanto fontes do clube negam e garantem que há documentação dessas obras. Dois ex-responsáveis da fase de Bartomeu declararam perante o Ministério Público que a empresa entregava semanalmente – ou pelo menos quando havia jogo do Barça – relatórios sobre as características do árbitro que iria dirigir a próxima partida da primeira equipe.